Regritas de Acesso

  • Não terás remorso
  • Não ameaçarás (em público)
  • Revelarás
  • Ruminarás
  • Regurgitarás
  • E cuspirá no primeiro que passar

12.4.09

O rico e o pobre entre os animais

Ontem fui assistir Saltimbancos com minha filha de 1 ano e meio. Recomendo. Hoje fui solicitada por meu irmão, que achou um gatinho desnutrido (ao lado de seu irmãozinho, já morto), no meio fio da Vila Mariana, sol a pino, a levá-lo no Cobasi perto da Praça Panamericana, para que ele fosse bem tratado e aguardasse resgate pelo pessoal da Zoonose (bem depois descobri que a Zoonose mata depois de 3 dias).

Meio que tomada pelo hino da bixarada ("Nós, gatos já nascemos pobres, porém já nascemos livres"), resolvi ir.

Chegando lá, UAU! E pensar que só em São Paulo tem uns 3 ou 4 destes shoppings para animais. São andares e andares só de coisas para bichos. Coisas chiques para bichanos chiques! No pátio, ao lado do estacionamento, um playground, meio que berçário de cachorro, com gangorra, pneus para exercício, casinha (igual e que tem no berçário da minha filha). E só carrão estacionado no pátio. Muitos carros, muitos donos, muitos bichos, fiquei boquiaberta (ali, ao ladinho mesmo, um contraste lugar comum: gente pedindo esmola, inclusive gatos).

E o gatinho que carregava no carro, enfiado em meio a uma caixa de papelão velha (foi o que deu para arrumar na rua, durante seu resgate por meu irmão), contrastava grosseiramente com todo aquele luxo. Resolvi não expô-lo ao preconceito. Pensei que se aparecesse com o infeliz, naquele estado, em meio a tanto bicho rico, iriam olhar torto, correr com medo do mau cheiro, das pulgas. Deixei o gatinho no carro, com minha mãe e filhinha, e entrei sozinha.

Já na porta me disseram que aquilo ali era uma loja, não tinha condições de receber animais, fechavam à noite, não tinham como abrigar um gato (heim? mas e todos os animais que ficam na loja - são muitos! será que eles vendem todos até o final do expediente??). Me pediram para procurar a mulher que cuidava do setor de adoção. O setor, dentro da loja, abrigava alguns cachorros, nenhum gato (acho que gato não faz sucesso quando o papo é adoção). Todos com ar e cheiro de rico. Pensei, oba! Que bom, o luxo abrindo espaço para os mais necessitados. Ledo engano!!! A mulher, uma ricaça, dondoca mesmo, nem quis ver o gatinho, disse que ele podia ter doenças e que seria impssível adotá-lo. Mandou que eu instalasse o bichano no meu banheiro, colocasse algum anúncio em parques, jornais, e aguardasse uma alma caridosa. Agradeci e me retirei, sem nem tentar apelar para o fato de ser Páscoa, e tal. O centro de adoção de lugar chique só adota bichano rico, filho de pai rico, provavelmente de linhagem.

Fiquei sem saber o que fazer. Liguei na Cobasi da Ricardo Jafet (Imigrantes). As chances de terem bichanos mais humildes ali é maior. Novo engano. Parei em uma veterinária, na Sena Madureira. Trata-se de uma clínica 24 horas que atende animais, inclusive para cirugias. Já na entrada, três atendentes, uma ala para internações e outra para emergências, TV no teto, água e café em balcão próximo. Ao passar pela moça veterinária, chique, bonita, de branco, contei a história do gatinho. Ou tentei. Ela nem me olhou. Balançou a cabeça e foi fazer farrinha para um cachorrinho muito fofo, de coleira dourada.

O final do gatinho foi feliz, depois de muito penar, principalmente meus irmãos, que acharam uma ONG em Sapopemba e levaram o gatinho para lá, às 21 horas do Domingo de Páscoa, depois de pegar metrô com o bichano dentro da caixinha.

Mas a história acima é surpreendente! Pelo menos para mim. Que nunca havia notado a tamanha semelhança entre classes sociais de humanos e animais. E neste ensejo, ainda noto que os silvestres são, na verdade, os "índios".

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