Dr. N estréia em: O beijoqueiro!

Venho devagar. A curva para entrada do meu carro na vaguinha que me aguarda no prédio onde trabalho tem que ser aberta. Com isto ocupo duas pistas da rua, movimentada, nos jardins. Abro bem o carro para a guinada noventa graus. Vejo um carro (carrão) estacionado na frente da minha vaga. Certamente serei vista, tem uma senhora no volante, carro ligado, ela irá puxar o carro um pouquinho para frente, claro... Aguardo alguns segundos. Nada. Prestes a buzinar, me contenho. Lá vem Dr. N correndo em direção ao carro. Dr. N tem um escritório no prédio onde trabalho. Mais, é chefe de uma grande amiga minha. Ele vai pedir que a senhora puxe o carro um pouquinho para frente. Estou salva. Aguardo. Dr. N corre. Corre, Dr. N. Os funcionários do prédio também aguardam. E Dr. N corre. Mas Dr. N não pede para a senhora puxar o carro para frente. Dr. N tasca, isto sim, um beijão na senhora. Alguns motoristas, atrás de mim, começam a se impacientar. Estou bloqueando parte da rua, enquanto Dr. N beija. Não posso buzinar, é uma situação constrangedora. É chefe da minha amiga. E está beijando... Por Deus. Dr. N levanta os olhos na minha direção. Minha reação imediata é abaixar a cabeça e fingir que estou procurando algum papel na porta do carro. E penso, agora ele me viu, vai ficar constrangido e pedir para a senhora puxar o carro. Não me viu, e mais um beijo. Olho para o guardinha que cuida do prédio e peço a ele que solicite ao Dr. N puxar o carro para frente. O guardinha me olha, com cara de sem graça, e pede que eu aguarde. Não posso condená-lo. Eu também não tenho coragem de buzinar. Então buzinam por mim. Ele me olha no meio de outro beijo. Eu dou tchauzinho. Ai, tchauzinho?? A moça puxa o carro, eu finalmente entro na vaga. Corro então, literalmente, para o elevador. Ufa, a porta fechou antes que ele entrasse. Do alto (o elevador é panorâmico) vejo Dr. N rindo à toa. Fiquei com inveja. Dr. N começou o dia beijando moooooito!