Regritas de Acesso

  • Não terás remorso
  • Não ameaçarás (em público)
  • Revelarás
  • Ruminarás
  • Regurgitarás
  • E cuspirá no primeiro que passar

19.11.07

Cuma?


Tenho uma tia avó muito legal que é cega. Totalmente. Ela não nasceu assim não, enxergou até uns 10 anos quando então começou a ter problemas nas retinas. A visão embaçava. Meu bisavô então levou-a pra São Paulo, pra ser operada pelo melhor médico do ramo. Ocorre que por uma dessas “coisas que só o destino explica”, a cirurgia foi um caos, um erro médico na verdadeira acepção do termo. Barberagem que lhe custou a visão. Na época não se falava em responsabilidade civil, e muito menos em seguro por erro profissional, falou-se apenas.... “Coitada. Deus quis assim”. E assim foi... minha tia foi levada para o interior e estudou numa escola especial para cegos.... aprendeu violão, piano, ler e escrever em braile, espanhol e a fazer massagem... se casou, viajou, fez amigos, virou professora, enviuvou... não teve filhos mas também nem precisava pois a agenda dela é tão cheia que mais uma atividade ia ser complicado... Mas o caso todo veio à tona pois me lembrei que ela odeia essa estória de novos termos para velhas coisas. Por exemplo, “Portador de Deficiência Visual”, ela odeia, quando ela ouve isso ela fala: “Qui qué isso? Eu não porto nada disso não, sou cega... e só”. Essa minha tia é tudo, se ela comandasse o mundo não teríamos o desgosto de topar com o termo “Departamento de Talentos” para definir o bom e velho “Recursos Humanos”, ou “Integrante da Terceira Idade”, para “Velhinho(a)”, ou “Assistente Administrativo” para “Motoboy”... e por aí vai... essa minha tia é o máximo.... mesmo sendo cega e velhinha.

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